.

.

quarta-feira, 19 de dezembro de 2012

Mel

Seu filho dormira quente e confortável a vida inteira. Quando era bebê, os braços do pai e suas mãos côncavas embalavam seu sono. Ele sabia cantar, também. Ás vezes fazia, quando o filho tivera um dia agitado, leite morno, quase quente, com mel: a cor e o sabor de sua voz terna. As músicas, naquele tempo, se chamavam cantigas de ninar, e não confortavam senão, seu único filho e amigo (amigo e filho). Dormia para sempre, e acordava ao som do canto do canário que tinham na varanda.

No dia em que acharam uma pomba em frente ao seu portão, lá fora, na rua, o garoto já sabia falar e pediu para apanhá-la. O pai apanhou a pomba, que era preta, e tinha um bico pontiagudo, com as mãos em forma de concha. Levou uma bicada e gritou na cor vermelha, soltando a pomba que foi bicar o canário.

De noite, o garoto não aceitou o leite com mel e chorou com a música que o pai cantou. Pediu para tomar água do mar e dormiu de luz acesa. Quando a pomba bicou o coração do canário, o pai matou a pomba na cor negra, e nunca acordou o garoto pois não havia canário algum para lhe fazer cantigas. Dormiu para o nunca, na cor branca, num mar de leite sem mel. Morno. Quase frio.

Luba - 27.06.2001

Luba Sem Titubear - poesias de luis antonio ferreira rosmaninho


Mais que um amigo, uma fonte de inspiração inesgotável.
Saudades.


Nenhum comentário:

Postar um comentário